Recife e a desigualdade no acesso à água

22 de março, Dia Mundial da Água, data estabelecida no âmbito do sistema ONU em 1993 como forma de demarcar a defesa e preservação dos recursos hídricos e considerar o direito à água um direito humano fundamental.

No entanto, desde que essa data foi criada, as organizações e movimentos sociais do campo, da cidade e das florestas têm neste momento um instrumento de denúncia diante da escassez mundial no acesso a esse bem natural, fundamental para o nosso dia a dia.

Infelizmente a água é objeto de disputa pelas grandes nações e corporações capitalistas, transformando um direito básico em mercadoria e, com isso, colocando em curso processos de privatização e mercantilização das nossas fontes naturais em âmbito global. Por isso, essa data é um dia de luta em defesa da água como direito humano fundamental e bem comum, uma vez que o acesso a este recurso natural é fonte de vida para o campo, na agricultura familiar; nas cidades, para atender às nossas necessidades diárias; e nos territórios das populações tradicionais, com seus modos de vida.

A falta de acesso à água nos atinge em grande escala porque, além de tudo, é um bem caro. Pagamos para ter acesso em nossas casas, nas torneiras, mas nos últimos tempos isso vem sendo cada vez mais escasso, de norte a sul do país diante da crise hídrica, e sem a devida solução para a população. Esse cenário é agravado em períodos de crise, como a das epidemias (arboviroses) e pandemias (coronavírus).

Esse impacto tem repercussões ainda maiores para nós mulheres, nós mulheres populares, nós mulheres negras, moradoras dos bairros e periferias urbanas. Mas, também nas áreas rurais e populações tradicionais uma vez que, com a chamada desigual divisão sexual do trabalho, cabe a nós mulheres, pela obrigatoriedade das relações sociais de gênero, a majoritária tarefa com os serviços domésticos e de cuidados. E como o acesso a água nas torneiras só chega, e quando chega, tarde da noite ou madrugada, o recolhimento e reserva de água tornou-se uma sobrecarga na vida das mulheres populares e negras, porque neste momento da noite e/ou madrugada são obrigadas a fazer o serviço doméstico (lavar, cozinhar, limpar a casa, etc) neste horário, e, com isso, acaba por causar danos à saúde, uma vez que, ao diminuir o tempo de descanso e repouso, o trabalho fora e dentro de casa transforma-se numa sobrecarga para suas vidas.

Como os depoimentos a seguir nos mostram, se estava ruim com a irregularidade no acesso à água, a desigualdade nos bairros na política de abastecimento e a sua qualidade insalubre para o acesso piora ainda mais. Vivemos um tempo da pandemia em que a falta e o racionamento da água em todos os bairros da RMR e no estado só agravam a situação vivida pela população. O simples ‘lave as mãos com água e sabão para se prevenir do COVID-19’ se transformou numa piada e numa palavra sem sentido, porque o racionamento e a falta d´água há muito tempo se transformou numa regra perversa diante da omissão ou muitas vezes inoperância para resolver a questão da universalização do acesso à água potável e com qualidade.

Infelizmente vivemos um momento delicado no meio de uma crise de pandemia. Um dia importante que não podemos comemorar porque ter água não é privilégio de todas as pessoas.

– Cléia Santos (Espaço Mulher de Passarinho)

Infelizmente aqui na comunidade Caranguejo Tabaiares, água ainda é um item que não chega na torneira de todos e a coisa piorou ainda mais com esse racionamento, pois quando a água chega vem fraca que mal dá pra fazer as tarefas básicas do dia a dia.

Ceça Silva (Coletivo Caranguejo Tabaiares Resiste)
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